quinta-feira, 21 de abril de 2011

Comentário: Matéria revista Veja "Contenção e repressão"

Recebi esse texto de um amigo que leu, identificou elementos que se parecem com o meu jeito de ser, fez um recorte e me deu. De fato meu amigo acertou, me identifiquei bastante ao ler, achei o texto excelente e parecido com o meu modo de pensar e agir.
Ao diferenciar contenção de repressão a autora acerta na sua explicação. No texto ela usa o exemplo do desastre no Japão e a questão de civilidade dos habitantes daquele país, que realmente impressiona. Se fosse no Brasil acho que já estaríamos em uma guerra, com certeza iríamos estar vivendo um momento terrível em nossas vidas.
No texto, Betty Milan mostra que a pessoa que é contida, é assim porque o desejo dela é esse e não porque os outros a fazem pensar ou querer de tal forma, diferente da pessoa que é reprimida. Muitas vezes pensamos que contenção e repressão são sinônimos, mas nesse exemplo percebemos que eles são distintos em seu conceito e objetivo.
Existem pessoas que só tomam certas atitudes para ter a aprovação dos outros ou para demonstrar aos outros algo diferente do que se passa dentro de si, eu não sou assim. Eu faço o que eu quero, falo o que eu quero e penso o que eu quero, a opinião dos outros ao meu respeito me influencia, lógico, vivo em sociedade e não quero me excluir, mas a opinião alheia não me influencia a ponto de fazer com que eu mude o meu jeito de ser e pensar ou agir de tal forma para agradar os outros.
Em primeiro lugar estou eu, os meus desejos e anseios, a minha satisfação pessoal e a minha felicidade, ou seja, antes de agradar os outros eu tenho que me agradar e principalmente ser fiel a mim, aos meus princípios e valores.


CONTENÇÃO E REPRESSÃO
Autora: Betty Milan
Fonte: revista Veja de 06 de abril de 2011

“A vida depende do ensinamento da contenção que não é sinônimo de repressão. Quem se contém o faz porque quer fazê-lo, e não porque é obrigado pelos outros. Obedece a uma lei que não é exterior, mas que foi interiorizada”.

A cidade é nossa. Li essa frase descendo uma das ruas do Pacaembu, em São Paulo. Estava escrita em letras garrafais no muro recém-pintado de uma casa. Ela chamou minha atenção e não me saiu da cabeça. O que significa a palavra “nossa”? Poderia significar que a cidade é um bem comum e todos são responsáveis por ela. Mas, por estar num muro recém-pintado, lamentavelmente significava que todos podemos dispor da cidade como bem entendermos.

O significado me remeteu às águas negras de entulho do Rio Tietê, aos bueiros das ruas de São Paulo obstruídos pelo lixo, ao horror das inundações: a terra que desaba, o barraco soterrado e os moradores sujeitos ao pior. São Paulo, Rio de Janeiro e o resto do Brasil, onde ainda dispomos do espaço como bem entendemos. Pensei no autor da frase. Ele, decerto, escreveu com uma fantasia prazerosa de onipotência. Porém fez isso à noite, furtando-se ao olhar dos outros. Não era livre, era escravo do desejo de ser onipotente. Escreveu, mas sabia do risco de ser pego em flagrante e sofrer as consequências.

Ninguém é livre por fazer o que bem entende, e sim por desejar fazer o que pode. Na cidade ou no campo, no rio ou no mar, no espaço inteiro do planeta. Terremotos, tsunamis, tempestades: a sobrevivência requer autocontrole, de impor a prevenção. Exemplo disso são os japoneses, que controlaram a repercussão do terremoto devastador pela localização judiciosa da maioria das construções e pela forma como as construíram.

A conduta de quem se norteia só pela própria fantasia não é livre, é perversa pois faz do prazer a única lei do desejo. Visa somente à satisfação imediata e negligencia o estrago que pode causar. A vida depende do ensinamento da contenção, que não é sinônimo de repressão. Quem se contém o faz porque que fazê-lo, e não porque é obrigado pelos outros. Obedece a uma lei que não é exterior, mas que foi interiorizada. Quem é reprimido deixa a contragosto de fazer o que deseja – e, por sentir-se contrariado, tende a valorizar a transgressão.

A contenção implica a consciência de que somos livres quando desejamos o que podemos. Ou seja, quando nossa liberdade leva em conta os outros. Para tanto, é preciso ser educado como no Japão, onde, apesar da tragédia que se abateu sobre o país, não houve violência, cenas de tumulto ou saque. Mesmo nesse momento extremo, a disciplina imperou nos abrigos improvisados e nas filas dos telefones públicos. Privadas do uso normal do celular, as pessoas esperavam pacientemente a vez para falar com os familiares. Uma lição de civilidade tão inesquecível quanto um terremoto que corresponde a 108.000 bombas de Hiroshima.


2 comentários:

  1. Camila, com todo respeito, acho que vc não entendeu a proposta da autora...O cerne do texto é sobre levar em conta o outro, importar-se com as pessoas por vontade própria (contenção) e não por imposição (repressão, que pode levar à transgressão). A decisão quanto ao modo de agir é de fato pessoal, mas o texto não é uma apologia ao "eu".
    De qq forma, o seu blog é muito bacana.
    Abçs,

    P.

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  2. Olá Anônimo,
    Respeito a sua opinião, mas não fiz apologia ao "eu", apenas falei que eu me identifiquei com a matéria justamente na forma de agir, porque me acho contida e não reprimida em muitos momentos da minha vida, por isso citei o "eu". Quando falei primeiro dos meus desejos e vontades, quis dizer que a primeira pessoa a quem as minhas atitudes são fiéis é a mim mesmo.
    Obrigada por comentar, acho sempre importante a participação e opinião de cada um, fique sempre à vontade.

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